Trecho do livro Origem da Sanidade, de Norberto Keppe.
O princípio fundamental do processo terapêutico (psicoterapia) é a percepção de que se é doente; se não fosse, qual a necessidade da psicoterapia? O contrário é válido, para explicar a origem da enfermidade, pois justamente a doença é o fato de não querer se ver doente; como tratar do que não existe? Se o mal viesse de fora, não haveria qualquer necessidade de tratamento. Se o indivíduo não se vê doente, jamais alcançará qualquer sanidade; como sair da insanidade se não admite que está lá?
– Fico pensando muitas vezes que talvez não seja tão egoísta como o pessoal fala.
– Ou não aceita ver que pensa muito em si mesma?
É importante considerar que são as outras pessoas que nos conhecem melhor, desde que temos uma grande censura de ver os próprios males – o que não acontece com o semelhante que evidentemente até gosta de ver nossos defeitos, para também fugir dos dele. Por este motivo, posso afirmar que só o indivíduo que se vê doente é que conseguirá curar-se, pois se ele se acha são, como iria procurar sanar a enfermidade que acredita não ter?
– Não entendo o pessoal quando afirma que não me interesso pelo trabalho.
– Mas, o sr. se interessa mesmo?
– Bem, o que me dão para fazer eu faço.
Na realidade, ele afirmava algo que não era bem o real, porque por várias vezes deixou seu trabalho incompleto – revelando possuir enorme irresponsabilidade; e ao não aceitar essa consciência, o cliente evidentemente jamais corrigiria um defeito que não acredita ter.
– Eu me sinto muito distante de Deus, falou A.M.
– Será que não tem um problema básico de inveja contra ele? Perguntei.
– Mas, me falta a fé, retorquiu.
– A inveja é a anulação da fé, reexpliquei.
Como a inveja é o anti-sentimento, ou a anulação da consciência, a resistência em ver a própria patologia esclarece o alto grau de inveja que a pessoa tem.
– Não sei se foi por causa da cerveja que bebi, que fiquei nervoso, falou A.F.
– O que o sr. chama de nervosismo?
– É um sentimento de medo que me veio.
– Ou agora o sr. está notando que tem medo?
– Mas isso não é anormal?
– O indivíduo normal é aquele que vê o seu mal. Todas as pessoas têm medo; por que o sr. não quer senti-lo?
O ser humano dificilmente aceita ver que é doente (neurótico), o que dificulta extremamente sua existência. Os pesquisadores e pensadores em todos os tempos procuraram saber qual seria o cerne fundamental de tudo o que existe, para a partir daí construir um sistema, seja científico ou filosófico, ou até mesmo teológico sobre a realidade da existência. O que se nota premente conhecer é que, se não houver consciência da própria patologia, todo e qualquer trabalho estará fadado ao insucesso.